Buenas pessoal…

Nesse 27 de Fevereiro último, Moacyr Scliar morreu… pensei várias formas de transmitir isso…ensaiei mil começos mas acho que o melhor ainda é morreu

Morreu porque a morte é coisa normal, natural… parte da vida…esta é a morte, digamos assim… aceitemos assim… pois como vou dizer que ele deu adeus…??? Se ele não deu…como vou dizer que ele descansou…??? Com toda a obra que ele produziu… como vou dizer que ele se retirou da ativa, se a obra dele que era a real vida dele, está viva e ativa… não tem como… esse é um dos grandes privilégios e um dos grandes sabores de ser escritor… as obras podem ser admiradas e amadas por todos em qualquer era, por qualquer geração, em qualquer idioma, de qualquer jeito.

Creio que mais especificamente os gaúchos tinham cada a sua maneira, um modo de admirar e amar a obra e por vezes a pessoa de Moacyr Scliar… ganhador de vários prêmios importantes de nossa literatura incluindo três prêmios Jabuti e a entrada em 2003 para o seleto e honroso grupo dos Imortais da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 31.

Na construção de toda a sua obra escreveu contos, romances, livros de ficção infanto junvenil, crônicas e ensaios.

Já li bastante coisa do Scliar, e agora me apego nas palavras de outro, na minha opinião, “grande“… pois nele também achei um pouco da minha maneira de continuar admirando o Scliar… pois por mim e do meu jeito, artistas como ele nunca terão sossego e sempre continuarão na ativa.

Esse é o motivo do título do post ser ” O nome dele “é” Moacyr Scliar“…por tudo o que ele fez e pelos sentimentos que a obra dele continuará despertando em cada um que pela primeira vez abrir cada um de seus livros… ele “continuará” sendo, “continuará” fazendo… agora entendo um pouco mais da tal imortalidade.

Mágico é aquele que revela o segredo e todos continuam não entendendo o que ele fez.

 

Falo de Moacyr Scliar, autor de mais de setenta livros, entre romance, crônica, conto, literatura infantil e ensaio. Morreu neste domingo (27) à 1h, por falência múltipla de órgãos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Foi o único ilusionista que me convenceu desde a infância. Incompreensível onde arrumava tempo para escrever e manter colunas na revista Veja e nos jornais Zero Hora e Folha de São Paulo.

Confessava que tinha disciplina e acordava cedo, mas não tinha como acreditar, ele mantinha um exército dentro de si, um exército de um homem só domando centauros, produzindo miragens, dobrando os dias, duplicando a claridade da página.

“Não se dorme dentro do livro. São turnos ininterruptos de luz”, brincou uma vez comigo.

“Então, o livro é o único lugar de Porto Alegre que fica aberto 24h”, respondi, e ele riu da minha conclusão, eu queria ter aqueles olhos azuis imensos e sobrancelhas quase transparentes para poder rir um dia.

Scliar era ubíquo, estava em dois lugares ao mesmo tempo, é certo que no coração do leitor. Suas ilusões mais conhecidas envolviam aparecimentos súbitos, leitura da mente, e tudo o que desafiasse a explicação racional com seus personagens fantásticos, sequiosos pela verdade como num Antigo Testamento.

Era médico para despistar seus poderes ocultos. Colocou, inclusive, o Cruzeiro de Porto Alegre na semifinal do Gauchão (partida decisiva é hoje), como um dos 19 torcedores do time.

Eu não conhecia no mundo alguém mais gentil, mais dedicado. As costas sempre eretas de nadador, o passo rápido, o mundo se apequenava com sua ligeireza: mandava cartas, telefonava para agradecer uma referência, antecipava notícias, não esquecia coisa alguma.

Foi o primeiro a me saudar na literatura em minha estreia com As Solas do Sol. Meu primeiro comentário crítico no jornal é dele: Carpe Diem. Carpe Carpinejar. Minha pasta de resenhas começa com ele.

Acentuava traços filiais na hora de contar histórias. Acentuava traços paternos na hora de repreender. Ele me enxergava fumando no saguão de um hotel e logo mandava:

– Põe no chão, põe logo no chão, antes que vá primeiro do que o cigarro.

A ameaça escondia uma preocupação, um conselho de amor. Eu apaguei o vício, ele nunca apagou suas virtudes.

Ele, ele, ele, cadê ele? Resta uma armada de ausências pelo Brasil. Não havia evento literário que não houvesse o nome de Moacyr Scliar no folder. Chegava ao Acre e ele passara por lá na noite anterior. Chegava ao Amazonas, ele aterrissaria no dia seguinte. Pulava para Pernambuco e nos encontrávamos para dividir a tapioca no café da manhã. Escolas pelo interior, universidades, bienais, Scliar, além de escrever sem parar com toda qualidade.

Mágico. Scliar era um mágico.

Choro e fico com vontade de recolher uma por uma de minhas lágrimas para não desperdiçar nada que vem de sua literatura. Ele não desperdiçou nada ao longo de 73 anos.

Agora está acordado dentro do livro. Lá ninguém dorme. Posso procurá-lo sempre que precisar.

Grande abraço!

Horácio Almeida.