Buenas pessoal…

Recebi esse texto via e-mail de um grande amigo, o arquiteto que está fazendo a nossa casa (minha e da Clau), Sr. João Ghem, pessoa de grande cultura, conhecimento e educação, mas de uma simplicidade e simpatia tremenda.

Gostei muito do texto pois, gosto muito da nossa parte de “letras”, sendo um amante e um adorador da nossa língua portuguesa… mesmo não tendo ela a objetividade que são características da língua inglesa e nem o “romantismo” que é atribuído às letras e às canções francesas, temos várias palavras, vários significados e fazemos por onde para nos entendermos além de contarmos com galicismos, pleonasmos, metáforas, e demais figuras de linguagem, ainda temos (ou tínhamos) nossas regras de acentuação que de certa forma auxiliavam nossa linguagem única e na diferenciação de um sentido de uma palavra para outra.

Minha opinião não é saudosista ou conservadora de maneira a não querer ou não aceitar as mudanças e evoluções que devemos ter, mas sim pensar sobre a pressão das mudanças que concomitantemente acontecem hoje com os nossos próprios hábitos.

Temos crianças hoje que digitam melhor do que escrevem, e de certa forma, quando escrevem, já estão utilizando um dialeto novo, um dialeto utilizado corriqueiramente na internet.

Buenas, creio que deva existir um bom senso na aplicação disso tudo, dessa mudança de hábitos… sabemos que é maravilhoso ligarmos um GPS, quer seja no nosso iPhone quer seja o aparelho em si, e essa tecnologia nos largar na porta de um restaurante novo que a gente pegou a indicação por um site ou por um blog de gastronomia da onde a gente assina o feed.

Sério pessoal… já repararam quanta coisa nova? Quanta palavra “de fora”? Nossa linguagem está realmente mudando… é claro que podemos falar “arquivos de atualização de conteúdo” ao invés de “feed”, “comércio eletrônico” ao invés de “e-commerce“, “sítio eletrônico” ao invés de “website”.

Mas e aí?

O que dá mais certo? O que passa exatamente o que desejamos falar, dizer, expressar?

Por esse motivo, se alguns anglicismos são praticamente cruciais, porque não os nossos acentos? Novamente digo… não é defesa, não é conservadorismo, é reflexão… é perguntar para onde estamos indo e verificar os motivos.

Segue o texto, boa leitura, grande abraço!

Horácio Almeida.

 

 

 

Despedida do TREMA
Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüentas anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!…


O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio… A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?… A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W “Kkk” pra cá, “www” pra lá.
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou “tremendo” de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!…

Nos vemos nos livros antigos. saio da língua para entrar na história.

Adeus,
.. (Trema)